A crise econômica que assola o Brasil e, a reboque, vários estados de nossa federação, entre os quais o próprio Rio de Janeiro, revela a grave pressão que a inchada folha salarial do governo submete ao orçamento público. Em tempos de prosperidade, o equilíbrio orçamentário parecia navegar em mares tranquilos. Na falta de dinheiro (ou de planejamento), percebemos com clareza a grave situação dos cofres públicos. É preciso, então, tomar decisões e estabelecer prioridades.
Manter o funcionalismo público com os salários em dia é uma dessas prioridades – mas custa caro. O custo de um funcionário público, por vezes, faz com que o governo deixe de investir em projetos relevantes que a sociedade demanda, como educação, saúde, segurança e transporte. Por essas e outras, a crise tem que servir de oportunidade para os brasileiros refletirem sobre a velha cultura dos concursos públicos.
A opção dessa modalidade de trabalho parece atraente. A dita “estabilidade” que os concursos prometem se torna, para maus funcionários, incentivo de acomodação. A falta de cobrança, idem. Servir ao Estado é mais prestigioso do que servir a empreendedores privados? Enquanto sociedade, portanto, devemos fazer da crise momento para questionar se, efetivamente, a cultura da carreira pública é benéfica a todos, ou, sobretudo, aos que estão ou querem entrar na máquina.
Nesse meio tempo, porém, em sentido contrário, há aqueles que deixam suas estáveis colocações em concurso em busca do sonho de empreender. Pode até parecer mais arriscado – e talvez seja mesmo. Mas é disso que o país mais precisa nesses tempos: empreendedores que criam riqueza, trazem soluções e, sobretudo, aceitem ser remunerados de acordo com a própria competência em oferecer um bom serviço ou produto ao mercado em que atuam. Não há limites para a glória.
Evidentemente que a carreira pública pode se fazer necessária em alguns casos e, nesse cenário, é preciso respeitá-la. Por outro lado, no entanto, as condições de contratação pelo Estado podem e devem ser sempre condizentes com as práticas de mercado, de tal modo que ninguém se beneficie às custas do coletivo e tenhamos as contas públicas em boa vitalidade.
Agora, se você, leitor, estiver na dúvida entre ser um empreendedor ou investir para ser aprovado em um concurso público, sempre é tempo de frisar: o Brasil, o Rio, enfim, toda a sociedade, precisa mesmo é de mais empreendedores. De pessoas com fome de trabalho e com muita vontade de produzir. O empreendedor organizado cria seus horários, decide com o que quer trabalhar, inova ou muda de setor e pode voar muito mais longe. Sem falar, é claro, na possibilidade de, algum dia, criar vagas de emprego, gerando renda para outras famílias. E o emprego é o melhor programa social que existe, disse certa vez o ex-presidente americano Ronald Reagan.
Não fique desestimulado pelas crises e dificuldades que passamos em nosso país. Não creia que empreender é um sonho distante: planejamento, coragem e foco já são um bom começo. Enquanto alguns choram, brinca o publicitário Nizan Guanaes, já há empreendedores vendendo lenços. Quem sabe não seja você amanhã?
*Artigo originalmente escrito para a revista e o site Utilitá.