Analisando o chavismo

Na virada do milênio, começamos a acompanhar algumas mudanças radicais no nosso continente. Naquele ano, o já falecido presidente Hugo Chávez tinha quase dois anos de mandato e neste curto espaço de tempo conseguira mudar a Constituição da Venezuela. Durante os 14 anos de Governo Chávez, diversos países se alinharam adotando o modelo bolivariano. Este processo não começou de repente. Teve início em 1989, quando na Venezuela ocorreu um aumento no preço da gasolina. Vale lembrar que, hoje, encher um tanque de gasolina lá, sai mais barato que um litro de água. Com isso, o então governo do presidente Carlos Andrés Pérez sofreu o “caracazo”. Durante este movimento, começaram as revoltas dos militares de ideologia socialista, ao qual pertencia o então tenente Hugo Chávez.

Parece ter sido aí o começo do envolvimento deste grupo com Fidel Castro, que já havia tentado invadir a país, patrocinando guerrilheiros nas montanhas, entre as décadas de 70 e 80. Castro viu em Hugo a última, porém, salvadora chance de se instalar naquele país. Na época, Cuba estava sofrendo com o fim da então União Soviética, que a mantinha injetando bilhões de dólares anualmente como aluguel de suas bases militares ali instaladas, recursos que eram aplicados para manter os programas sociais de um país com cerca de 9 milhões de habitantes. Com esta chance, Fidel percebeu que, ganhando a Venezuela, poderia, novamente, reerguer o plano anti-imperialista pelo qual luta.

Daí até 1992, quando ocorreu, no dia 4 de fevereiro, a tentativa do golpe militar, liderado por Chávez, estes dois líderes se encontraram algumas vezes na ilha. Tendo falhado o golpe, Chávez foi preso. Mas nestes dias, o povo venezuelano passou a olhar a política de outra maneira, com um novo líder que alguns chegam a considerar como um mártir; começando a achar que Chávez fora preso injustamente, e muitos pedindo a sua liberdade. Enquanto esteve na prisão, Chávez não parou. Continuou seus planos e estudos até 1994, quando o presidente venezuelano Rafael Caldera decidiu libertá-lo.

Durante sua reclusão, Chávez e seus seguidores viram que um golpe para chegar ao poder não seria o melhor caminho e, por esta razão, candidatou-se a presidente nas eleições de 1998, por um partido que fora criado por ele e ajudado por Fidel. Este sabia que se conquistasse a Venezuela conseguiria, com os recursos oriundos do petróleo, prosseguir com a sua Revolução, estendo seus tentáculos comunistas, chegando a outras nações, principalmente da América Latina. Argentina, Bolívia e Equador foram alguns países patrocinados pelo socialismo chavista do século XXI.

Na Argentina, quando era presidente Nestor Kirchner, houve um caso escandaloso. Ao ser detido um alto dirigente da PDVSA (Petróleos da Venezuela) que levava uma mala com cerca de US$ 800 mil, que seriam destinados a dar apoio à campanha presidencial dos “hermanos”. Atualmente, as notícias denunciam que no país tem se generalizado a corrupção por todos os lados. O governo, tendo conseguido mudar a legislação, vem buscando restringir a liberdade de imprensa.

Na Bolívia, o ainda presidente Evo Morales foi financiado pelo chavismo por se tratar de um líder indígena que se alinha com suas diretrizes. Ele recebeu milhões de dólares, destinados à construção de diversas bases militares e ao apoio a programas sociais. Em 2013, o mundo ficou sabendo que havia um senador boliviano asilado na Embaixada do Brasil por discordar de diversas ações do presidente e por ter denunciado diversos atos prejudiciais praticados por Evo Morales.

No Equador, o presidente Rafael Correa também conseguiu implantar algumas alterações na Carta Magna do país. Tem caracterizado sua ação por um cerco aos empresários de oposição, principalmente àqueles dos jornais que publicam denúncias contra o atual governo, o que tem gerado manifestações internas e em outros países.

A Venezuela fechou o último ano com um crescimento do PIB negativo, de menos 0,1%, o pior do continente. Em contraste, podemos constatar que os três maiores PIBs de 2013 foram de países não alinhados com a Venezuela. Em primeiro lugar aparece o Paraguai, que teve sérios problemas com os países do Mercosul desde 2012, quando o então presidente Fernando Lugo foi deposto. Diversas autoridades, inclusive o atual presidente venezuelano, Nicolás Maduro, estiveram naquele país, com a intenção de evitar o impeachment. O Paraguai fechou 2013 com um aumento no PIB de 10,1%.

Em segundo lugar aparece o Panamá, que vem crescendo dia a dia, sendo hoje um dos principais países especializados em comércio exterior, por causa do Canal do Panamá, onde por dia passam milhões de toneladas de um lado ao outro do mundo e, além disso, por ser um país que facilita o empreendedorismo. Os panamenhos fecharam 2013 com um aumento no Produto Interno Bruto de 8,1%. Em terceiro lugar, aparece o Peru, país que no início do atual governo chegou a estar alinhado ao chavismo, porém, aos poucos foi se desfazendo dessa ligação inoportuna. O Peru mantém um PIB alto, graças ao sustento do setor de construção e, por isso, fechou 2013 com alta de 5,7%. Por coincidência, os três maiores crescimentos do PIB da América Latina de 2013 são países que não estão neste grupo de financiamento dependente do petróleo venezuelano, não buscaram alterar sua Carta Magna e não perseguem o empresariado e a imprensa.

Durante toda essa investida bolivariana na América Latina, o povo venezuelano tem visto o país se corrompendo dia após dia e vem temendo a crescente onda de violência que em 2013 gerou mais de 25 mil homicídios. Um país rico de petróleo, com a gasolina custando três centavos de dólar o litro, mas que diariamente sofre apagões, a falta de água e após 15 anos de governo, este ainda coloca a culpa nos antigos governantes, que deixaram o poder em 1998. Tentando calar a oposição desde quando o presidente Chávez assumiu, inúmeros jornalistas, devidos às ameaças recebidas, já tiveram que sair do país por razões de segurança pessoal.

Em março deste ano, entre 26 e 29, haverá no Rio de Janeiro o XV Encuentro de Estudiantes y Graduados en Relaciones Internacionales del Cono Sur, que tem como tema principal “Conjunturas Regionais e Liberdade de Expressão”. Neste encontro, haverá o debate de toda essa situação no nosso continente, onde participarão embaixadores, líderes empresariais e especialistas em temas políticos, econômicos e sociais. Este encontro está sendo organizado por estudantes de Relações Internacionais do Iuperj e ocorrerá na Universidade Candido Mendes e na Associação Comercial do Rio de Janeiro no Rio de Janeiro. O evento contará também com outros temas, como: Saúde, Meio Ambiente, Segurança, Cultura e Educação.

Estão confirmados apoios como da Fundação Konrad Adenauer, Brics Policy Center, Aiesec, Unic-Rio (agência da ONU no Rio de Janeiro), Centro Brasileiro de Relações Internacionais. E estão confirmados os patrocínios da Prefeitura do Rio de Janeiro, da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz e da Associação Comercial do Rio de Janeiro. Quem estiver interessado em participar, poderá se inscrever no site www.conosur2014.com.br, onde terá todas as informações necessárias.

Artigo publicado originalmente para o jornal Monitor Mercantil em janeiro de 2014.

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